Título do fragmento: “Trajetória Profissional: Dona Marina”
Autor: Luciana Tubello Caldas Local: POA/RS Data de produção: 25/05/2009 “(...) notei que uma senhora que acabava de passar a roleta se posicionou em minha frente, olhei para o seu rosto, ela devia ter quase 60 anos, usava óculos e tinha os cabelos curtos e grisalhos... Aquele rosto me era familiar... Perguntei se ela era a Dona Marina, ela respondeu que sim. Dei-lhe oi e disse que eu havia pegado aquele mesmo ônibus com a Ellen outro dia. Dona Marina disse que se lembrava de mim. Enquanto falávamos, levantei-me e cedi o meu lugar à Dona Marina. Ela se mostrou surpresa com a gentileza, e perguntou se eu não queria ficar sentada, disse que não, que ela poderia ficar à-vontade. Em retribuição a gentileza Dona Marina se ofereceu para segurar a minha mochila, aceitei e agradeci. Perguntei aonde ela trabalhava. Dona Marina disse que trabalhava na limpeza da Moda Casa, uma loja de móveis. Perguntei se ela trabalhava ali há muito tempo. Ela respondeu que sim, a mais ou menos seis anos. Perguntei se nesses seis anos ela pegava aquela mesma linha. Dona Marina comentou que sim, que pegava aquele ônibus muito antes do Samuel ser cobrador, e deu risada. Perguntei se ela sempre havia trabalhado na área de limpeza. Ela respondeu que não, que havia trabalhado em uma creche e depois havia cuidado de idosos. E que no seu último emprego teve que sair, pois a senhora que ela cuidava havia ficado muito doente, tendo que ser cuidada 24 horas por dia. Assim, a família achou que ficaria mais em conta pagar uma clínica do que duas pessoas (Dona Marina e mais uma) para cuidarem da senhora. Dona Marina acrescentou que a filha dessa senhora, logo após dispensar os seus serviços, arranjou esse emprego na Moda Casa para ela.” |
Título do fragmento: “Passagem compartilhada”
Autor: Luciana Tubello Caldas Local: Alvorada, RS. Data de produção: 24/03/2010 “O ônibus parou para mais um embarque, já estávamos no Bairro Jardim Algarve, naquela parada quatro mulheres negras, por volta dos 30 anos, embarcaram. A primeira mulher embarcou com o seu cartão em punhos, passando-o no leitor e logo em seguida entregando-o para a outra a outra mulher que vinha logo atrás. Esta repetiu o procedimento da primeira entregando o cartão para a terceira mulher que vinha atrás e a mesma prática se sucedeu com a quarta mulher que embarcara. Por que as quatro mulheres passaram o mesmo cartão? Por que a primeira pagou a passagem das outras três? Em meio a essas indagações lembrei-me que Vera havia me relatado que certa vez ela estava no ônibus, sentada em um dos bancos antes de passar a roleta, com o dinheiro da passagem na mão, e que havia uma senhora sentada ao seu lado que, percebendo que ela iria pagar a passagem com dinheiro, propôs que Vera lhe desse o dinheiro da passagem, em troca, ela lhe emprestaria o seu cartão para, assim, pagar a passagem; justificando que ela não gastava todos os créditos (passagem) e que com o cartão ela não podia mais vender as passagens excedentes para os camelôs no Centro. Vera sem ver problemas, aceitou a proposta dando-lhe o dinheiro e passando o cartão da companheira de viagem. Seria o mesmo motivo que levava uma daquelas mulheres a emprestar o seu cartão? Acredito ser interessante pensar que diante da estratégia do poder público de implantação da bilhetagem eletrônica, alguns usuários do transporte coletivo, acabaram desenvolvendo táticas, como essa, diante da impossibilidade de venda das passagens excedentes.” |
Título do fragmento: “Dirce e suas delimitações acerca de Alvorada”
Autor: Luciana Tubello Caldas Local: Avenida Presidente Getúlio Vargas, Centro – Alvorada/RS. Data de produção: 09/02/2010 “Dirce falou a respeito da linha que iria utilizar para retornar para a sua casa, que era o L2, disse que essa linha pertencia à empresa VAL e que só circulava dentro de Alvorada, acrescentou que os ônibus responsáveis pela circulação até Porto Alegre eram da empresa SOUL. Após esses esclarecimentos novamente houve um silêncio. Perguntei para Dirce onde ela morava. Ela respondeu que morava na Vila Santa Regina no Passo da Figueira. Surpresa perguntei onde era pois, nunca havia ouvido falar nessa vila. Ela respondeu que ficava no Passo da Figueira e não em Alvorada. Indaguei-a como era feita essa distinção, pois imaginava que tudo era Alvorada. Ela disse que da garagem da SOUL em diante era Alvorada e que da garagem da SOUL para trás era tudo Passo da Figueira. Achei curiosa essa definição do espaço feita pelos próprios moradores, já que, pelo mapa tudo era Alvorada e o Passo da Figueira, assim como Salomé, Umbú, Jardim Algarve, etc., eram considerados bairros de Alvorada. Após essa breve explicação de Dirce, a respeito da sua concepção de delimitações da cidade de Alvorada, o silêncio novamente se fez presente.” |
Título do fragmento: “Deixar tudo limpo dá muito mais trabalho”
Autor: Luciana Tubello Caldas Local: Alvorada, RS. Data de produção: 24/04/2010 “Perguntei para Marion se ela já havia resolvido os problemas que havia mencionado – quando havia ligado na semana anterior para confirmar a entrevista Marion disse que não iria poder, pois estava com problemas familiares. Marion disse que sim, que estava tudo se encaminhando, que o problema maior era o fato de a mulher, em que ela faz faxina em sua casa, todos os sábados, não ter lhe chamado para fazer a faxina a mais de três semanas. Marion acrescentou que esses três sábados, que ela não fez a faxina, equivalem a R$ 150,00 a menos no orçamento e é isso que lhe está preocupando. Perguntei se havia algum motivo especifico para que essa mulher não estivesse procurando os seus serviços. Marion respondeu que ela era uma mulher velha e que normalmente as velhas não se preocupam muito com a limpeza da casa, que elas costumam ir deixando a sujeira se acumular. Completou a sua fala dizendo: “Pra mim é pior, porque daí tem serviço em dobro... Deixar tudo limpo dá muito mais trabalho”. |